quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A pequenez da desfiliação do SINDIMED e a grandeza da atuação da CUT, CTB e movimentos sociais

O programa Mais Médicos segue dividindo a sociedade e evidenciando posições políticas repugnantes. O Sindicato dos Médicos de Sergipe (SINDIMED), em assembleia no dia 24/09/2013, votou pela desfiliação da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A razão é uma só: a CUT/SE apoiou o programa Mais Médicos e, além disso, ainda foi ao aeroporto de Aracaju, nos dias 14 e 15/09, junto com diversos movimentos sociais (MST, MOPS, MOTU e Levante Popular da Juventude, por exemplo), centrais sindicais (como a CTB), médicos e estudantes de medicina – demonstrando desacordo com o corporativismo conservador de suas entidades –, para receber os médicos estrangeiros, especialmente os cubanos.

O posicionamento da CUT/SE foi mais que um mero apoio a um programa governamental que beneficia os trabalhadores. A atitude teve um claro tom político-ideológico: coadunado com as bandeiras históricas da classe trabalhadora, tais como fortalecimento do SUS e defesa da revolução cubana, ocorreu num momento em que a mídia conservadora e diversas entidades corporativas médicas se insurgiam contra o programa.

Certamente, isso foi demais para a diretoria do SINDIMED e parte de sua base de influência. Afinal, manter-se filiado à CUT significaria o vínculo com uma central que defende o fortalecimento da saúde pública e que não se rende aos interesses mais corporativos de qualquer que seja a categoria que sobreponha os interesses do povo brasileiro. Ora, nessa ocasião, o branco higienista dos jalecos e dos privilégios de parte da categoria não poderia se confundir com o vermelho das bandeiras e do sangue dos trabalhadores.

Assim como a posição da CUT foi política, a do SINDIMED também foi. Uma à esquerda, outra à direita. Uma compreendendo o interesse de todo o povo, outra com os olhos apenas para seu umbigo. 

Destaque-se que diversas desfiliações das centrais sindicais ocorrem por disputas, em última instância, salvo raras exceções, com vistas à arrecadação do imposto sindical. No bojo da luta cotidiana, esse interesse último se traveste de posições “mais à esquerda” ou “mais à direita” do governo e de outros senões.

Nesse caso, no entanto, a desfiliação não se originou dessa disputa mais comum do movimento sindical. Fugiu à regra. Fez-se com clara definição político-ideológica. Mais: o SINDIMED travestiu sua posição com dois supostos argumentos técnicos: primeiro, copiando o Conselho Federal de Medicina (CFM), afirmou que o Brasil teria médicos suficientes (1,8 por mil habitantes), mas faltaria distribuí-los; segundo, em nota e convocação para assembleia de desfiliação (18/09), ratificou sua posição antipopular sob justificativa de que estaria em defesa de direitos trabalhistas.

Quanto ao primeiro argumento, mero cinismo. A prova da inconsistência do argumento foi o baixo número de médicos inscritos nos programas de interiorização que PRIORIZARAM médicos brasileiros. Inclusive, o nosso pequeno estado teve apenas 44% da sua demanda atendida pelo Programa de Valorização a Atenção Básica (Provab) que, dentre outras finalidades, estimula os médicos recém-formados a atuarem nos municípios interioranos que solicitaram o provimento ao Ministério da Saúde, com uma bolsa de 8 mil reais.

Quanto ao segundo argumento, mera falácia. Ora, não foi esse mesmo sindicato que defendeu a derrubada dos vetos presidenciais sobre o Ato Médico, o que implicaria em diminuição de competências/atribuições das outras 13 categorias da saúde? O que significa minorar as atribuições das outras categorias senão diminuir-lhes direitos trabalhistas?

Na mesma incoerência incorre o CFM e o seu porta voz nacional, o Deputado Federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), o qual fora premiado pelo CFM pela intensa dedicação parlamentar à categoria médica. O deputado, membro da bancada ruralista e ex-presidente da UDR, votou contra a PEC do Trabalho Escravo (PEC 57A/1999), a qual dispunha sobre a expropriação das fazendas nas quais fosse utilizado trabalho escravo. No entanto, afirma ser contra o Mais Médicos em razão de supostamente o programa submeter os médicos (especialmente os cubanos) a regime de escravidão, a certo “trato desumano”.

Caiado, sim, é fiel à classe que pertence. Infelizmente, a posição do SINDIMED – sindicato de trabalhadores – se assemelha à do latifundiário conservador.

Não resta dúvida, pois, que a alegação do sindicato é mero subterfúgio para a defesa dos mais mesquinhos interesses corporativistas e ideológicos. Não se quer, com esse texto, blindar o Mais Médicos às críticas, mas se quer destacar a necessidade de fazê-las na proporção devida e sopesando os interesses do povo. A luta pelo fortalecimento do SUS não pode enfrentar a vinda de médicos solidários à carência do povo brasileiro, considerando o nosso déficit profissional. São pautas que não são dicotômicas. A luta pelo fortalecimento do SUS deve compreender o Programa Mais Médicos para avançar e superá-lo. Combatê-lo só alimenta uma interpretação: manter a baixa oferta profissional (1,8 médicos por mil habitantes) para promover a famigerada reserva de mercado e consequente manutenção dos altos salários e privilégios.

Nesse sentido, com a desfiliação, evidenciou-se a pequenez da retaliação a uma das centrais que, tendo que optar entre manter mais gorda sua arrecadação e defender os interesses do povo, optou pelo povo, assim como a CTB. Mantiveram-se com sua razão de existir: a luta dos trabalhadores.

Sabe-se – é bom frisar – que essa posição do SINDIMED não é unânime na categoria. A despeito de existir sim um forte sentimento corporativista em parte considerável dos seus componentes, há muitos médicos e médicas que comungam seus interesses econômicos – que são legítimos – com o belíssimo exercício da medicina, no seu sentido mais profundo e juramentado.

Nessa divisão da sociedade, fundamental mesmo é estar ao lado da classe que se beneficia com o avanço da saúde pública, qual seja, a classe trabalhadora. É inadmissível que o SINDIMED esteja de costas a esse programa que vem em meio a transformações e popularização de profissões historicamente elitizadas. A história lhe cobrará caro. Decerto, a inércia ante aquelas manifestações conservadoras e racistas, largamente conhecidas nas redes sociais, da recepção dos médicos cubanos “COM CARA DE DOMÉSTICAS”, em Fortaleza/CE, não poderia entrar na conta da CUT, da CTB e dos movimentos sociais de Sergipe.

Que seja feita a vontade popular.

Jessy Dayane - 1ª Diretora de Mulheres da UNE e Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude
Ivan Siqueira Barreto - Militante da Consulta Popular/SE
Thiago Santana – Militante da Consulta Popular/SE

Nenhum comentário:

Postar um comentário