A
razão é uma só: a CUT/SE apoiou o programa Mais
Médicos e, além disso, ainda
foi ao aeroporto de Aracaju, nos dias 14 e 15/09, junto com diversos movimentos
sociais (MST, MOPS, MOTU e Levante Popular da Juventude, por exemplo), centrais
sindicais (como a CTB), médicos e estudantes de medicina – demonstrando
desacordo com o corporativismo conservador de suas entidades –, para receber os
médicos estrangeiros, especialmente os cubanos.
O
posicionamento da CUT/SE foi mais que um mero apoio a um programa governamental
que beneficia os trabalhadores. A atitude teve um claro tom
político-ideológico: coadunado com as bandeiras históricas da classe
trabalhadora, tais como fortalecimento do SUS e defesa da revolução cubana,
ocorreu num momento em que a mídia conservadora e diversas entidades corporativas
médicas se insurgiam contra o programa.
Certamente,
isso foi demais para a diretoria do SINDIMED e parte de sua base de influência.
Afinal, manter-se filiado à CUT significaria o vínculo com uma central que
defende o fortalecimento da saúde pública e que não se rende aos interesses
mais corporativos de qualquer que seja a categoria que sobreponha os interesses
do povo brasileiro. Ora, nessa ocasião, o branco higienista dos jalecos e dos
privilégios de parte da categoria não poderia se confundir com o vermelho das
bandeiras e do sangue dos trabalhadores.
Assim
como a posição da CUT foi política, a do SINDIMED também foi. Uma à esquerda,
outra à direita. Uma compreendendo o interesse de todo o povo, outra com os
olhos apenas para seu umbigo.
Destaque-se
que diversas desfiliações das centrais sindicais ocorrem por disputas, em
última instância, salvo raras exceções, com vistas à arrecadação do imposto
sindical. No bojo da luta cotidiana, esse interesse último se traveste de
posições “mais à esquerda” ou “mais à direita” do governo e de outros senões.
Nesse
caso, no entanto, a desfiliação não se originou dessa disputa mais comum do
movimento sindical. Fugiu à regra. Fez-se com clara definição
político-ideológica. Mais: o SINDIMED travestiu sua posição com dois supostos
argumentos técnicos: primeiro, copiando o Conselho Federal de Medicina (CFM),
afirmou que o Brasil teria médicos suficientes (1,8 por mil habitantes), mas
faltaria distribuí-los; segundo, em nota e convocação para assembleia de
desfiliação (18/09), ratificou sua posição antipopular sob justificativa de que
estaria em defesa de direitos trabalhistas.
Quanto
ao primeiro argumento, mero cinismo. A prova da inconsistência do argumento foi
o baixo número de médicos inscritos nos programas de interiorização que
PRIORIZARAM médicos brasileiros. Inclusive, o nosso pequeno estado teve apenas
44% da sua demanda atendida pelo Programa de Valorização a Atenção Básica
(Provab) que, dentre outras finalidades, estimula os médicos recém-formados a
atuarem nos municípios interioranos que solicitaram o provimento ao Ministério
da Saúde, com uma bolsa de 8 mil reais.
Quanto
ao segundo argumento, mera falácia. Ora, não foi esse mesmo sindicato que
defendeu a derrubada dos vetos presidenciais sobre o Ato Médico, o que implicaria
em diminuição de competências/atribuições das outras 13 categorias da saúde? O
que significa minorar as atribuições das outras categorias senão diminuir-lhes
direitos trabalhistas?
Na
mesma incoerência incorre o CFM e o seu porta voz nacional, o Deputado Federal
Ronaldo Caiado (DEM-GO), o qual fora premiado pelo CFM pela intensa dedicação
parlamentar à categoria médica. O deputado, membro da bancada ruralista e
ex-presidente da UDR, votou contra a PEC do Trabalho Escravo (PEC 57A/1999), a
qual dispunha sobre a expropriação das fazendas nas quais fosse utilizado
trabalho escravo. No entanto, afirma ser contra o Mais Médicos em razão de
supostamente o programa submeter os médicos (especialmente os cubanos) a regime
de escravidão, a certo “trato desumano”.
Caiado,
sim, é fiel à classe que pertence. Infelizmente, a posição do SINDIMED –
sindicato de trabalhadores – se assemelha à do latifundiário conservador.
Não
resta dúvida, pois, que a alegação do sindicato é mero subterfúgio para a
defesa dos mais mesquinhos interesses corporativistas e ideológicos. Não se
quer, com esse texto, blindar o Mais
Médicos às críticas, mas se
quer destacar a necessidade de fazê-las na proporção devida e sopesando os
interesses do povo. A luta pelo fortalecimento do SUS não pode enfrentar a
vinda de médicos solidários à carência do povo brasileiro, considerando o nosso
déficit profissional. São pautas que não são dicotômicas. A luta pelo
fortalecimento do SUS deve compreender o Programa Mais Médicos para avançar e superá-lo. Combatê-lo
só alimenta uma interpretação: manter a baixa oferta profissional (1,8 médicos
por mil habitantes) para promover a famigerada reserva de mercado e consequente
manutenção dos altos salários e privilégios.
Nesse
sentido, com a desfiliação, evidenciou-se a pequenez da retaliação a uma das
centrais que, tendo que optar entre manter mais gorda sua arrecadação e
defender os interesses do povo, optou pelo povo, assim como a CTB.
Mantiveram-se com sua razão de existir: a luta dos trabalhadores.
Sabe-se
– é bom frisar – que essa posição do SINDIMED não é unânime na categoria. A
despeito de existir sim um forte sentimento corporativista em parte
considerável dos seus componentes, há muitos médicos e médicas que comungam
seus interesses econômicos – que são legítimos – com o belíssimo exercício da
medicina, no seu sentido mais profundo e juramentado.
Nessa
divisão da sociedade, fundamental mesmo é estar ao lado da classe que se
beneficia com o avanço da saúde pública, qual seja, a classe trabalhadora. É
inadmissível que o SINDIMED esteja de costas a esse programa que vem em meio a
transformações e popularização de profissões historicamente elitizadas. A
história lhe cobrará caro. Decerto, a inércia ante aquelas manifestações
conservadoras e racistas, largamente conhecidas nas redes sociais, da recepção
dos médicos cubanos “COM CARA DE DOMÉSTICAS”, em Fortaleza/CE, não poderia
entrar na conta da CUT, da CTB e dos movimentos sociais de Sergipe.
Que
seja feita a vontade popular.
Jessy
Dayane - 1ª Diretora de Mulheres da
UNE e Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude
Ivan
Siqueira Barreto - Militante da Consulta
Popular/SE
Thiago Santana – Militante da Consulta Popular/SE
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