terça-feira, 26 de junho de 2012

O que está por trás do golpe no Paraguai?

O verdadeiro objetivo é o interesse do imperialismo estadunidense em controlar a região

25/06/2012

Mario Neto

Não poderia ser diferente. Bastaram algumas poucas horas para que o departamento de Estado dos EUA reconhecesse com agilidade o impeachment do presidente eleito nas urnas pelo povo paraguaio, Fernando Lugo. A agilidade foi a marca de toda essa farsa que se passa em Assunção, pretensamente constituída sob o bastião da institucionalidade e legalidade.

O fato é que há muito tempo se tentava provocar um golpe no Paraguai e somente agora as forças direitistas conseguiram o feito.

A Casa Branca, em nota oficial, afirmou que "reconhece o voto do senado paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo" e "pede para que todos os paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do espírito dos princípios democráticos" do país.

Anteriormente, o governo dos Estados Unidos da América, através de seu porta-voz para a América Latina do Departamento de Estado, William Ostick, havia alertado que se deveria observar o processo e os direitos do acusado, o presidente Lugo.

A mais pura balela e cretinice do Império, que visa investir sobre os países da América Latina, como saída para a crise capitalista em curso e aprofundamento.

O governo Lugo afronta os interesses dos fazendeiros, latifundiários produtores de soja para exportação, dentre os quais, o brasiguaio Tranquilo Favero. Ao passo que impede a saga dos EUA em tornar aquele país em mais uma das nações dependentes do julgo imperialista.

 Utilizo esses termos “afronta” e “impede”, porque ainda tenho esperanças de que o jogo poderá ser revertido, muito embora a conjuntura seja adversa. E por não reconhecer o governo dessa víbora, agora empossada, chamada Federico Franco, do Partido Liberal.

Neste momento em que escrevo essas linhas, eu sinto o cheiro de esperança. “E a esperança é aquele cheiro que dá quando a chuva fina molha o asfalto empoeirado da minha rua”.

Pois bem, voltemos ao que interessa. O fato é que num golpe muito bem orquestrado, Colorados e Liberais afrontam contra o povo paraguaio. Conseguiram derrubar um presidente com acusações falsas, desprovidas de provas. Ademais, todas elas deveriam, se fossem verdadeiras, ser qualificadas como crimes comuns, o que exigiria um rito próprio, o que não foi o caso.

 Alegaram, inclusive, as inclinações do presidente Lugo em politizar as Forças Armadas e propagandear a ideologia marxista e bolivariana. Ora, sequer a liberdade de pensamento de um chefe de Estado respeitaram. Nitidamente, manifestaram – Colorados e Liberais - seu ódio de classe e disposição para governar atrelados aos interesses ianques.

 E quais são esses interesses? O que de fato está por trás do Golpe no Paraguai?

 Antes de qualquer coisa, almejam a instalação de uma base militar do Comando Sul na região de El Chaco, no país vizinho Argentina, e divulgam amplamente, com apoio da mídia golpista, que pretendem combater o narcotráfico na área da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai). Outra farsa.

 A base militar de El Chaco será uma extensão da que foi instalada em 2005 no Paraguai, nas proximidades de Foz do Iguaçu.

Sendo assim, contando com outras bases militares e recentemente com o Centro de Operações controlado pela CIA, instalado no ano passado no Rio de Janeiro (feito do ex-ministro Nelson Jobim, agente da CIA no nosso país - que se prenda esse sujeito!), os EUA terão melhores condições para promover guerras-relâmpagos quando necessário for.

Porém, o verdadeiro objetivo por trás do golpe é o interesse do imperialismo estadunidense em controlar a região, a qual possui uma das maiores reservas de água doce do mundo, o Aquífero Guarani, onde, inclusive, foram descobertas jazidas de petróleo, ouro e titânio.

As tendências dos analistas se confirmam. Com o agravamento da crise capitalista, o Império investirá cada vez mais para saquear as riquezas energéticas e petrolíferas dos países do continente latino-americano. Os EUA não admitem que existam na América Latina, ou em qualquer lugar do mundo, governos como os do Equador, Venezuela, Bolívia e recentemente o Paraguai (com proporções diferentes, em virtude de uma correlação de forças mais adversa para a classe trabalhadora), contrapondo-se aos seus interesses de rapina.

Interesses estes que foram feridos desde que Fernando Lugo ascendeu à presidência em 2008. Os EUA tinham muito gosto pela ditadura de mais de seis décadas que jogava a seu favor naquele país irmão.

Neste momento, o Partido Colorado e o Partido Liberal fazem farra com o povo paraguaio. A oposição não tem força. As organizações populares, extremamente reprimidas durante os anos de ditadura, não conseguirão reverter o quadro sem uma ampla pressão internacional.

Tudo agora dependerá da Suprema Corte do Paraguai e mais ainda da Presidente Dilma Rousseff. É o momento dos povos da Pátria Grande intensificarem as mobilizações em todos os cantos do nosso continente, para que consigamos reverter a farsa golpista e que impere a verdade das urnas e do povo.

Falando em urnas. Torna-se ainda mais evidente e necessária uma ampla campanha internacional de apoio ao comandante Hugo Chávez, que enfrentará no dia 7 de outubro o candidato dos golpistas, Henrique Capriles.

A Revolução Bolivariana deverá seguir seu curso pela clareza dos povos da América Latina de que um outro mundo será possível, se nas próximas e decisivas batalhas derrotarmos o imperialismo: o inimigo número um da humanidade. Sendo assim, se abrirá um tempo para as reformas estruturais em nossas sociedades, o tempo do Projeto Popular, que tarda, mas não falhará.

E ainda há entre nós forças populares que lançam confusão na sociedade e fazem coro com a direita golpista. Para sermos econômicos, só podemos identificar essas reações como mais um capítulo de toda essa farsa.

Mario Neto é da Direção Nacional da Consulta Popular; associado da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia (AATR/BA) e do Comitê Baiano Pela Verdade (CBV).

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