O verdadeiro objetivo é o interesse do imperialismo estadunidense em controlar a região
Mario Neto
25/06/2012
Mario Neto
Não
poderia ser diferente. Bastaram algumas poucas horas para que o
departamento de Estado dos EUA reconhecesse com agilidade o impeachment
do presidente eleito nas urnas pelo povo paraguaio, Fernando Lugo. A
agilidade foi a marca de toda essa farsa que se passa em Assunção,
pretensamente constituída sob o bastião da institucionalidade e
legalidade.
O fato é que há muito tempo se tentava provocar um golpe no Paraguai e somente agora as forças direitistas conseguiram o feito.
A
Casa Branca, em nota oficial, afirmou que "reconhece o voto do senado
paraguaio pelo impeachment do presidente Lugo" e "pede para que todos os
paraguaios ajam pacificamente, com calma e responsabilidade, dentro do
espírito dos princípios democráticos" do país.
Anteriormente, o
governo dos Estados Unidos da América, através de seu porta-voz para a
América Latina do Departamento de Estado, William Ostick, havia alertado
que se deveria observar o processo e os direitos do acusado, o
presidente Lugo.
A mais pura balela e cretinice do Império, que
visa investir sobre os países da América Latina, como saída para a crise
capitalista em curso e aprofundamento.
O governo Lugo afronta os
interesses dos fazendeiros, latifundiários produtores de soja para
exportação, dentre os quais, o brasiguaio Tranquilo Favero. Ao passo que
impede a saga dos EUA em tornar aquele país em mais uma das nações
dependentes do julgo imperialista.
Utilizo esses termos
“afronta” e “impede”, porque ainda tenho esperanças de que o jogo poderá
ser revertido, muito embora a conjuntura seja adversa. E por não
reconhecer o governo dessa víbora, agora empossada, chamada Federico
Franco, do Partido Liberal.
Neste momento em que escrevo essas
linhas, eu sinto o cheiro de esperança. “E a esperança é aquele cheiro
que dá quando a chuva fina molha o asfalto empoeirado da minha rua”.
Pois
bem, voltemos ao que interessa. O fato é que num golpe muito bem
orquestrado, Colorados e Liberais afrontam contra o povo paraguaio.
Conseguiram derrubar um presidente com acusações falsas, desprovidas de
provas. Ademais, todas elas deveriam, se fossem verdadeiras, ser
qualificadas como crimes comuns, o que exigiria um rito próprio, o que
não foi o caso.
Alegaram, inclusive, as inclinações do
presidente Lugo em politizar as Forças Armadas e propagandear a
ideologia marxista e bolivariana. Ora, sequer a liberdade de pensamento
de um chefe de Estado respeitaram. Nitidamente, manifestaram – Colorados
e Liberais - seu ódio de classe e disposição para governar atrelados
aos interesses ianques.
E quais são esses interesses? O que de fato está por trás do Golpe no Paraguai?
Antes
de qualquer coisa, almejam a instalação de uma base militar do Comando
Sul na região de El Chaco, no país vizinho Argentina, e divulgam
amplamente, com apoio da mídia golpista, que pretendem combater o
narcotráfico na área da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e
Paraguai). Outra farsa.
A base militar de El Chaco será uma extensão da que foi instalada em 2005 no Paraguai, nas proximidades de Foz do Iguaçu.
Sendo
assim, contando com outras bases militares e recentemente com o Centro
de Operações controlado pela CIA, instalado no ano passado no Rio de
Janeiro (feito do ex-ministro Nelson Jobim, agente da CIA no nosso país -
que se prenda esse sujeito!), os EUA terão melhores condições para
promover guerras-relâmpagos quando necessário for.
Porém, o
verdadeiro objetivo por trás do golpe é o interesse do imperialismo
estadunidense em controlar a região, a qual possui uma das maiores
reservas de água doce do mundo, o Aquífero Guarani, onde, inclusive,
foram descobertas jazidas de petróleo, ouro e titânio.
As
tendências dos analistas se confirmam. Com o agravamento da crise
capitalista, o Império investirá cada vez mais para saquear as riquezas
energéticas e petrolíferas dos países do continente latino-americano. Os
EUA não admitem que existam na América Latina, ou em qualquer lugar do
mundo, governos como os do Equador, Venezuela, Bolívia e recentemente o
Paraguai (com proporções diferentes, em virtude de uma correlação de
forças mais adversa para a classe trabalhadora), contrapondo-se aos seus
interesses de rapina.
Interesses estes que foram feridos desde
que Fernando Lugo ascendeu à presidência em 2008. Os EUA tinham muito
gosto pela ditadura de mais de seis décadas que jogava a seu favor
naquele país irmão.
Neste momento, o Partido Colorado e o Partido
Liberal fazem farra com o povo paraguaio. A oposição não tem força. As
organizações populares, extremamente reprimidas durante os anos de
ditadura, não conseguirão reverter o quadro sem uma ampla pressão
internacional.
Tudo agora dependerá da Suprema Corte do Paraguai e
mais ainda da Presidente Dilma Rousseff. É o momento dos povos da
Pátria Grande intensificarem as mobilizações em todos os cantos do nosso
continente, para que consigamos reverter a farsa golpista e que impere a
verdade das urnas e do povo.
Falando em urnas. Torna-se ainda
mais evidente e necessária uma ampla campanha internacional de apoio ao
comandante Hugo Chávez, que enfrentará no dia 7 de outubro o candidato
dos golpistas, Henrique Capriles.
A Revolução Bolivariana deverá
seguir seu curso pela clareza dos povos da América Latina de que um
outro mundo será possível, se nas próximas e decisivas batalhas
derrotarmos o imperialismo: o inimigo número um da humanidade. Sendo
assim, se abrirá um tempo para as reformas estruturais em nossas
sociedades, o tempo do Projeto Popular, que tarda, mas não falhará.
E
ainda há entre nós forças populares que lançam confusão na sociedade e
fazem coro com a direita golpista. Para sermos econômicos, só podemos
identificar essas reações como mais um capítulo de toda essa farsa.
Mario
Neto é da Direção Nacional da Consulta Popular; associado da Associação
de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia (AATR/BA) e do
Comitê Baiano Pela Verdade (CBV).
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